Hoje estamos mais ou menos acostumados com a classificação em estrelas, seja via hotelaria ou via sites de livros e filmes. Vira e mexe em papos de leitores surgem questionamentos sobre quais critérios se usa pra dar estrelas e daí vem todo o tipo de debate e teoria. De critérios diferentes pra nacionais independentes e estrangeiros, qual o significado exato de cada estrela, da necessidade de um julgamento honesto e a maior pergunta de todas: três estrelas é bom?
Dei uma pesquisada sobre a origem do sistema, e tem mesmo a ver com hotelaria, depois atrações, restaurantes, livros, filmes. Hoje usamos para todo tipo de comércio, serviço e até pessoas (passageiros de Uber que o digam). Um dos melhores episódios de Black Mirror, Nosedive, explora exatamente isso. Eu daria cinco estrelas para esse episódio, e você?
O poder de conceder estrelas foi transferido de críticos e especialistas para todo o público, e critérios que antes já eram controversos passaram a ser estritamente pessoais. Este é o problema de qualquer sistema de avaliação: estabelecer critérios (um salve para quem trabalha com educação!). Para livros, eu estabeleci um critério baseado nos RPGs que eu jogava do World of Darkness: ⭐ ruim, ⭐⭐ regular, ⭐⭐⭐bom, ⭐⭐⭐⭐ muito bom/ótimo, ⭐⭐⭐⭐⭐ excelente/espetacular. Então para mim três é bom. Mas estes conceitos ocultam outros julgamentos.
Se pra um livro fenomenal, o livro da minha vida, perfeito, aclamação do público, Nobel merecidíssimo eu dou cinco estrelas… como repetir essa nota para qualquer outro livro? A existência dele confina todas as outras minhas leituras à nota máxima quatro estrelas? Aí vem o problema: muitas vezes para avaliar, comparamos. Como não existe uma escala-padrão, temos que recorrer à relação entre um e outro livro. E uma comparação ainda pior: a do livro lido vs. o livro esperado. A expectativa exagerada pode arruinar uma experiência, e na era do hype e dos elogios hiperbólicos é muito fácil se deixar levar pelo conto do melhor livro "de todos os tempos da última semana". Aí vem outro critério: o livro cumpriu aquilo a que se propôs. Quem se propôs? Como vou saber disso? Este "se propor" não é só uma expectavia presumida ou projetada?
Preso nesses dilemas, acabei parando de dar nota para livros. Marco que leio para ter um controle e é isso. Mas… sempre tem um mas… a nota de um livro nas plataformas é um guia para leitores escolherem suas leituras. Se realmente curti a experiência e quero que um livro seja lido por mais pessoas, deixar quatro ou cinco estrelas ali e uma observação simpática e sincera de algumas linhas talvez relatando um ou outro incômodo também (lembre do sincero) é o melhor a ser feito. Especialmente quando se lê nacionais e independentes. Talvez aí esteja a "colher de chá" que dou a eles: eu não me sinto tão motivado a dar umas estrelas e convidar pessoas a lerem um best seller gringo. Esse tipo de livro elas já conheceriam e leriam de todo jeito. Mas para um dos nossos, vale dar essa força.
Eu entrei nessa pira esses dias porque vivo também o outro lado: sou autor e me alimento de estrelas, e saiu um livro meu essa semana. Agora é a hora em que eu vou ter que passar o chapéu e contar com a boa vontade dos leitores para me ceder algumas unidades desses cobiçados corpos celestes. E resolvo fazer um texto com uma problematização suave justo disso… Bem dizem que são nossas incoerências que nos fazem humanos, né? Então sinal que não foi uma IA que escreveu este texto!
Faz um tempo eu venho ensaiando falar de livros no instagram. Descompromissadamente, papo de leitor pra leitor. Algo além do curti/não curti, mas muito longe de uma resenha. E sempre travava numa coisa: e as estrelas? Dar as minhas estrelas individualizadas, ali, na cara dura é muito diferente de deixar que elas se diluam numa média. E pensando eu fui entender realmente qual é a matéria cósmica da qual são feitas minhas estrelas: minhas reações.
Eu gosto de livros que me façam rir, que me façam chorar, que me deixem apreensivo, que me façam pensar. Que me fascinem com a beleza de sua prosa ou me levem numa viagem sensorial (um beijo, turma da weird fiction!). Tem todo o papo de manual de escrita que uma cena deve trazer uma mudança de estado, e de um livro é isso que eu quero, que mude um estado em mim. Então ao invés de dar estrelas, meu plano é dar reacts por meio de simpáticos ícones/emojis desenhados por Comic Sansa. E assim eu espero que meus colegas leitores possam visualizar a minha mudança de estado e dar um pouco de emoção às minhas palavras. Como amo essas carinhas, vou colar aqui para vocês babarem comigo, bem no estilo daqueles antigos quadros de bebê.
E você, como distribui suas estrelas? É mais generoso? Mais mão-de-vaca? As mantém num arquivo confidencial? Curtiu a ideia dos reacts?
No mais, sem mais,
Abraços ictiomercuriais,
Thiago Ambrósio Lage (@thamblage)
PS.:
Justo hoje, no dia de Mercúrio, Romantífica (vulgo meu livro mais recente) chegou aqui em casa. Estou assinando alguns volumes que voltarão para a editora enviar para quem apoiou com autógrafo, filmando reels, tirando foto e ficando eufórico do jeito que dá.
Quer comprar Romantífica? Basta fazer o pix e preencher este formulário que mando um pra você!
Falei, falei, falei de estrelas e sim, vou pedir algumas caso você já tenha recebido e lido o livro. Ele já tem cadastro no goodreads e no skoob. Se curtiu a leitura e tem perfil nessas redes, uma constelação e um comentário sincero pode fazer com que mais pessoas conheçam a obra!
Impossível falar de estrela e não panfletar meu conto Seis Estrelas que saiu na revista Escambanáutica. É uma fantasia urbana ambientada em Belo Horizonte e protagonizada por uma motorista-fantasma de aplicativo com algumas pendências com sua viúva. A trilha sonora do conto poderia muito bem ser Encontros e Despedidas. A revista é gratuita e pode ser obtida em diversos formatos eletrônicos no site da editora.
Seguindo a tradição, mais uma playlist pomodórica com mais ou menos 25 minutos. Espero que curtam!
Obrigado pela leitura!
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Meudeus, eu adorei seus "emojis" personalizados! Achei a ideia sensacional.
Eu acho muito importante problematizar as notas. Tem gente que tem critérios super detalhados para filmes, por exemplo, vai somando um ponto no máximo pra cada aspecto e aí chega a 8,65 de nota e arredonda pra 4,5 estrelas. Isso se houver a meia estrela (que eu fico chateado do Goodreads não ter). No meu Letterboxd eu tenho uma leve explicação dos meus critérios para filmes, mas ainda é muito sutil.
Dito isso, eu adoro dar notas, infelizmente. Para tentar amenizar, eu escrevo junto. Aí o que eu escrevi é o que achei de verdade, mais do que a nota. Escrevo sobre todos os livros que leio e todos os filmes que vejo.
Mas nunca é perfeito.
E eu jamais altero minha nota. Teve um exemplo curioso: lá em 2009 quando vi Avatar eu dei 5 estrelas. Com o passar dos anos e tanta gente falando mal, que era cópia de Pocahontas e Dança com Lobos, etc., que o filme foi diminuindo na minha cabeça. E eu mesmo já achava que seria um 3 estrelas. Bonzinho. Mas fui rever no final do ano pra ver o 2 e amei, dei 4,5 estrelas só porque hoje sou mais exigente do que em 2009.
Mas é por isso que não mudo notas que dei em outros momentos. Se eu rever ou reler, aí sim, dou uma nova nota.
eu guardo as cinco estrelinhas pras obras que eu mais amei. só que com o passar do tempo, elas podem deixar de ser minhas favoritas e aí fico na dúvida se revisito a "nota" ou se deixo como testemunho de como ela me fez sentir à época que a li/vi etc.
adorei seu novo sistema de figurinhas, muito mais divertido!