Mercúrio em Peixes

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O novo e o velho

Mercúrio em Peixes #003

Thiago Ambrósio Lage
Sep 15, 2021
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Topo de página da newsletter. Em um fundo roxo está escrito Mercúrio em Peixes numa tipografia com traços ao redor das letras e em azul-claro e ciano-escuro para simular metal. Abaixo de Mercúrio em Peixes há o subtítulo "reflexos num espelho líquido" em letras azul-claras mas em tipografia mais simples e tamanho menor.

Mas é você que ama o passado e que não vê

É você que ama o passado e que não vê

Que o novo, o novo sempre vem

Belchior, Como Nossos Pais

Não quero lhe falar meu grande amor, das tretas que vi no twitter.

Quero lhe mostrar meu RT e tudo que aconteceu comigo…

@thamblage

E nem precisa. Pasme: os dois podem coexistir. Conversamos um pouco sobre isso no episódio mais recente do #IncêndioNaEscrivaninha

https://t.co/Soo3iufCwJ https://t.co/NxLIVG9YmJ

11:38 AM - 12 Sep 2021

RT meio impulsivo e raivoso, acho que o mais raivoso que me permiti ser no twitter nos últimos 2 ou 3 anos (não me lembro quando voltei depois de deletar um perfil antigo em 2010). Isso pra um tweet qualquer exaltando como Kindle jamais substituiria o prazer de se estar num sebo. Eu gostaria de acreditar que este debate está encerrado, mas ele encerra outra coisa: a necessidade do novo suplantar o velho.

Novo e velho

Perceba como as palavras por si só já trazem pesos diferentes. Não disse o novo e o anterior, o novo e o tradicional, o novo e o estabelecido. O velho. Nossa repulsa a esta palavra traz muito de como nossa sociedade julga o que tem mais tempo. Envelhecer é proibido. Sua idade pode ficar mais alta, e “idade é só um número”. Desde que você pareça e se comporte como alguém décadas mais jovem. Isto me lembra a existência dos elfos de mundos de RPG, que amadurecem como os humanos até uns 20–30 anos e aí entram numa estase até centenas de anos. Todos congelados numa eterna juventude aparente. É com se a coexistência entre diferentes gerações fosse impossível, ou mais, é impossível a existência do que é mais velho (quero repetir esta palavra até naturalizá-la em meus dedos e em suas retinas ou tímpanos).

Mitologia

Na mitologia grega não era assim? Zeus na hora de ser hominho teve que matar papai Cronos, que quando foi sua vez de atingir a maturidade matou vovô Ouranos. Em Roma mudaram os nomes, mas não os costumes na linhagem patricida de Júpiter-Saturno-Urano.

Essa estranha família também tem Prometeu, que foi punido por Zeus, seu sobrinho, a um tormento eterno por ter dado o fogo aos mortais. Zeus temia que os mortais ficassem poderosos demais. Poderosos para matá-lo e dar mais uma volta neste ciclo cruel?

Com ou sem a ajuda de Prometeu, quem mata Deus/Zeus/Júpiter? Não sei. Mas quem encontra o corpo, dá o alerta e acusa a todos nós é Nietzsche. Não é o destino da criatura (homem) matar o criador (homem)? Mary Shelley captou isto de maneira brilhante com seu monstro de Frankenstein. Aquele que não à-toa traz o subtítulo de o Prometeu moderno.

As deusas e mortais também tinham suas querelas. Algumas delas eram resolvidas com uma saída narrativa considerada pouco criativa hoje: a morte no parto. O fruto fenece para que a semente brote e floresça. Em um mundo de medicina rudimentar, imagino que a taxa de mortalidade em partos era mais elevada que hoje. Ou isso sou apenas eu e meu conhecimento limitado da questão desconsiderando que poderiam dominar e executar técnicas de parto natural melhores que as nossas? Hoje temos o entendimento que a cesariana não aposentou o parto natural, e os dois podem ser feitos de acordo com a condição de saúde e opção da gestante bem informada. Velhas e novas técnicas podem, e devem, coexistir.

Boomers, Millenials, GenZ e a geração X esquecida no churrasco

Falando de conflito de gerações, dois recentes chamam a atenção: a geração millenial putaça por ter que se reconhecer como adulto cringe por uma geração Z que atinge a maioridade e as ofensas etaristas (idadistas?) aos apoiadores do despresidente nos atos antidemocráticos do último dia 7. Vendo talvez um pouco de fora (sou da transição da geração X para millenial, o que chamam de millenial geriátrico), me pergunto quem lucra com estes conflitos geracionais.

Cada geração tem seus dramas. Os millenials vivem esta adultescência prolongada por crescerem num mundo em crise que adia seus anseios de prosperidade e independência econômica (que são desejados por que mesmo?). Pessoas mais velhas que viveram os rigores da ditadura e lutaram contra ela precisam conviver com ofensas feitas por jovens que… fecham os olhos para colegas de sua idade propagando ideais fascistas. Jovens que tentam equacionar a herança de uma Terra de segunda, ou de ducentésima mão. Um planeta ainda novo, mas com quilometragem altíssima e necessidade de reparos urgentes.

Imagine all the people and livros

O Kindle (ou qualquer outro livro eletrônico ou a leitura em computadores, tablets e celulares) tem sua função e seu nicho, assim como os livros de papel. Eles podem existir juntos e trazer informações, ideias e entretenimento a qualquer um de acordo com sua necessidade. Falamos um pouco sobre isso no episódio do Incêndio na Escrivaninha sobre os anos 2010. E observando o ecossistema sonoro de vinis, fitas K7, CDs, rádios, streamings e mp3, acho que faltam é mais formas e suportes para a leitura.

Gerações X, Y, Z, alpha, boomer e seja lá qual mais for podem, e devem, conviver e aprender uns com os outros. Independente de quanto tempo tivemos ou tenhamos aqui, só juntos poderemos dar um jeito de salvar o planeta.

Se Nietzsche diz que matamos Deus, que tenhamos a maturidade e a decência de não matar também Gaia, a deusa-mãe.

Obrigado pela leitura, e até o próximo mergulho neste espelho líquido!

Abraços ictiomercuriais,

Thiago Ambrósio Lage (@thamblage)

PS.:

  • Montei uma playlist para escrever esta edição da Mercúrio em Peixes e… resolvi fazer algo diferente ao invés de somente compartilha-la: a playlist é colaborativa. Sendo assim, trago o link e todos são livres para adicionar mais músicas que achem ligadas ao tema de novo, velho, conflito de gerações ou qualquer outra coisa que associem a esta humilde newsletter. Creio que é uma maneira de nos conhecermos um pouco melhor, e de vocês conhecerem uns aos outros. A playlist está disponível no Spotify, é só chegar, ouvir e trazer mais sons. Há músicas com mais de uma versão. Na dúvida entre qual delas incluir, resolvi seguir meu conselho e usufruir de todas.

separador com o logo da newsletter (as letras Hg estilizadas) repetido 3 vezes, a primeira em amarelo-escuro, a segunda em turquesa e a terceria em azul-marinho. Hg é o símbolo do elemento mercúrio, e no desenho estilizado ele parece ser formado por desenhos de peixes.

Obrigado pela leitura!
Se gostou da newsletter, pode querer conferir o que tenho produzido como escritor em meu site, e como podcaster no Incêndio na Escrivaninha, junto das escritoras Ana Rüsche e Vanessa Guedes. E leiam as obras da Plutão Livros! Ou pode querer apenas me seguir nas redes twitter, instagram e facebook e ficar por dentro de minhas bobagens e novidades.

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