Amanhã é meu aniversário e depois, carnaval.
Não queria falar disso, até mesmo por ter tangenciado o tema na última edição da Mercúrio em Peixes, e por de alguma forma tentar evitar/contornar temas muito particulares aqui, mas é isso. Me entreguei às emoções mistas trazidas pela data e me conformei que independente do que escrever aqui, tudo sempre será pessoal de alguma forma (estou com um texto guardado ainda mais pessoal mas joguei pra frente por causa da data). Qualquer coisa que escrevesse estaria contaminada pela bad pré-aniversário. Ou pelo inferno astral. Ou pelo carnaval.
Você acredita em inferno astral? E se eu disser que não?
Como ex jovem místico (mais um aspecto meu que evitava abordar — apesar do nome da newsletter — um trocadilho entre questões astrológicas e ambientais que acabei quase nunca abordando), tenho alguma familiaridade com o conceito. Na lógica interna da astrologia, perto do seu aniversário o Sol fica na mesma posição em relação à Terra e aos signos no momento em que você nasceu. Isso é chamado de revolução solar (o mesmo princípio se aplica ao retorno de Saturno, mas o ciclo do planeta tem cerca de 29 anos, e do Sol, um ano). O inferno astral seria o período imediatamente anterior a este momento, uma época de conflitos e ajustes, talvez como forma de purgar o que passou para abrir espaço para o novo ciclo. Nem quando estudava astrologia mais a fundo, eu botava muita fé nisso (para mim, o trânsito do Sol pela sua décima segunda casa natal faria mais sentido de ser associado com um período nefasto).
Nunca gostei de meus aniversários. Nunca gostei de fazer aniversário. Sendo assim, para mim, o inferno era a data que tanto me incomoda se aproximando, independente dos astros. É um período em que fico realmente reflexivo e não consigo evitar pensar no que tenho feito (e mais ainda no que não tenho feito) da vida. Sempre foi tenso ver pessoas querendo comemorar a minha existência sendo que eu raramente estava com muita vontade de existir, e ainda menos de celebrar.
Quando morei em Recife por quatro anos, tive a minha chance: vivi esse tempo sem aniversariar. Numa cidade nova onde não conhecia ninguém, bastou não divulgar a data. Ter alguns não-versários e poder passar o dia ainda mais reflexivo que o costume me ajudou a entender uma coisa: apesar do dia ser meu (meu e de mais umas 22 milhões de pessoas pelo mundo) nem tudo é sobre mim. Aniversariar com amigos e a família também é me permitir ser amado e apreciado, deixá-los manifestar afeto. E talvez assim me empolgar um pouco mais com a minha existência ao percebê-la pelo olhar do outro. Se o inferno astral sou eu, o paraíso são os outros.
Depois disso, relaxei um pouco. Tanto que até falo nas redes sociais que estou "de aniversário", ou até mesmo publico uma newsletter sobre o assunto.
Pegando um pouco o tema da edição anterior, meu aniversário este ano cai colado com o carnaval, dois anos-novos simbólicos. E ainda tem um terceiro: nasci numa sexta-feira logo antes do carnaval, dessa forma, sempre considerei a sexta de pré-carnaval um tipo de aniversário honorário. Sempre é bom ter mais um motivo para cultivar outra bad.
Quando mais novo, detestava não apenas meus aniversários, mas também o carnaval. Não suportava as marchinhas, o calor, o suor, o caos, o comércio fechado, a vida em pausa. Acho que a alegria compulsória das duas datas pesa demais para os que têm temperamento melancólico ou tiveram suas batalhas pela saúde mental.
Foi em Recife e nos meus não-versários que aprendi a amar o carnaval. Em Olinda para ser mais específico. Ali vivi no meu suor, na minha pele, em minha fantasias que a vida não estava em suspenso, mas que ela podia ser mágica num mundo paralelo enquanto a folia durasse. Vestido de Pinóquio, Pinguim, porquinho ou palhaço, pude sair de mim mesmo e me ver e ser visto no espelho como outro. E assim me empolgar com minhas existências, até mesmo a da segunda-feira seguinte, quando o glitter é trocado pelos reagentes, e a fantasia pelo jaleco. Acaba a festa e é hora de me vestir de cientista, professor, escritor, amigo, vizinho, filho, irmão, namorado, o que for. Se a vida é uma sucessão de fantasias e personagens, é carnaval o ano todo.
E no fim, tudo é uma catarse festiva das tensões cotidianas.
No mais, sem mais,
Abraços ictiomercuriais,
Thiago Ambrósio Lage (@thamblage)
Gotas de mercúrio
Quero presente de aniversário! Mas como mal dou conta de ler o que já tenho em casa, seria besteira botar a wishlist da Amazon aqui. Então peço outras coisas, imateriais mas que fazem o escritor feliz:
Leiam minhas histórias! No meu site (thamblage.com) tem uma listagem de minhas publicações, a maioria delas gratuitas.
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Caso tenha lido meu livro ou meus contos em revistas e tenha muita disposição e perfil no Skoob ou Goodreads, ficarei muito feliz também se puder deixar uma resenha simpática. Isso ajuda demais a atingir novos leitores, e me motiva a continuar a produzir.
Tenho um conto que se passa no carnaval de Olinda, ele se chama Carnaval Encarnado, e está disponível na revista A Taverna.
Quer comprar o seu exemplar de meu livro Romantífica? [explico um pouco sobre ele aqui] Basta acessar o site da editora.
Outros planetas, outros metais, outros signos, outros animais
Segue a recomendação de duas newsletters com temas muito caros a mim, as imagens geradas por IA e o cansaço coletivo. Nelas,
e traduzem e organizam muitos sentimentos/pensamentos que também tenho, mas não consegui elaborar de forma tão nítida. São temas que talvez eu visite aqui um dia, vamos ver.
Mercúrio retrógrado
Não é a primeira vez que falo de carnaval aqui. Ano passado, montamos o nosso bloco newslettérico e saímos na avenida digital. Eis a edição, diretamente de 13/02/23:
Obrigado pela leitura!
Se gostou da newsletter, pode querer conferir o que tenho produzido como escritor em meu site, ou pode querer apenas me seguir nas redes instagram e facebook e ficar por dentro de minhas bobagens e novidades.
Meu mês está tão atribulado que não consigo me recordar se fiquei sabendo do seu aniversário em alguma rede e dei parabéns por lá. Então de qualquer maneira, deixo meus votos de um ciclo mais suave por aí, com duas semanas de atraso porque só agora cheguei na edição da news.
Feliz desaniver então. 💐✨