Dois anos de newsletter! E daí?
O que aprendi até aqui que talvez seja útil para seus projetos
Em agosto de 2021 rolou um papo meio empolgação de bar no twitter, bem na vibe de "Bora? Bora, só vou se você for. Então vamo!" E nosso destino final era lançar newsletters. Como qualquer papo na moribunda ágora digital, a conversa era pública e logo se formou o bonde do vai quem quer, quem viu, viu. Naquele momento algumas newsletters nasceram, outras foram revividas. A Mercúrio em Peixes veio dessa ninhada. Claro que minha memória falha e não lembro de todos os envolvidos, então nem vou tentar listar para não ser injusto deixando ninguém de fora. Quem quiser comentar aqui EU FUI, EU TAVA, só chegar!
Podia tentar resgatar o papo no twitter, mas nem perfil eu tenho mais. E de lá para cá muita coisa mudou. Meu trabalho ainda era remoto, e a vacina ainda não era para todos. Eu não só tinha twitter, como usava a plataforma dele (já extinta) para mandar minhas cartas. E nesses anos em que as memórias se embaralham, voltei e li a primeira edição da Mercúrio para entender o que se passava na minha cabeça.
Resumindo: via a newsletter como uma rota de fuga das redes sociais mediadas por algoritmos, como um atalho na comunicação com leitores. Versão longa: vou jogar o link no fim dessa edição, numa nova seção Mercúrio retrógrado.
Modéstia à parte, acho que fui bem sucedido. Hoje estou na edição 35 e há mais de 500 assinantes aqui com uma ótima taxa de abertura. Pode parecer um número pequeno, mas considerando o meio e o conteúdo, acho bastante expressivo. De algo que fiz "pra ver o que é que dá", a newsletter virou o meu principal canal de expressão e contato, a ponto de o perfil do twitter não fazer falta e o do instagram nunca ser prioridade.
Nessa caminhada aprendi uma ou outra coisa sobre mim e meus processos criativos que talvez possa me ajudar e te ajudar em nossos projetos. Fiz uma pequena lista aqui:
Planeje, mas faça
Ontem comentei com uma colega numa oficina que no meio dos escritores tem muita gente com “Síndrome de Sherazade": nunca terminam nada. Teorizei um pouco sobre o motivo de protelarem seus pontos finais, mas isso pode ser papo para outra hora. O papo aqui é a síndrome inversa, a minha síndrome de anti-Sherazade por falta de nome melhor (aceito sugestões), a síndrome de quem não começa.
Não é o medo da folha/tela em branco, mas o medo de começar. Eu quase sempre entro em modo planejamento e nisso posso perder uma vida ou só o bonde da oportunidade. De onde vem isso? Acho que do perfeccionismo, da procrastinação (que também tem seus motivos) e de algo que me aterroriza: ter que mudar alguma coisa depois. A internet não esquece, e ser pego em algum erro de continuidade ou contradição pode ser um crime fatal. Para evitar isso, tudo deve ser perfeito e imutável desde o primeiro momento, até a paleta de cores e o nome.
Bobagem! Pessoas e países mudam de nome e até livros mudam de título. Agora eu já não sou a pessoa que começou a digitar esse texto há 15 minutos. Um homem não atravessa o mesmo rio duas vezes, um rio não banha o mesmo homem duas vezes e nem eu digito essa frase duas vezes.
Se não fosse aquela algazarra no twitter, a Mercúrio em Peixes provavelmente nem existiria e eu seria um péssimo herói, preso em loop eterno na recusa do chamado.
Navegue
Para seguir num ambiente dinâmico, seja dinâmico. Observe ao redor, ajuste seus métodos, sua rota. Mude de rota e destino se preciso. Aprenda com o mar, com os ventos, com as estrelas, com os leitores, com as leituras.
Não basta começar com o pensamento que mudanças são possíveis: tem que ficar atento e estar disposto a fazer ajustes quando necessários.
Seja generoso consigo próprio, mas não condescendente
Eis um equilíbrio difícil. Entre tantas outras obrigações do dia a dia, não é raro não sobrar tempo para a newsletter ou qualquer projeto paralelo que seja. Um atraso na publicação não é uma catástrofe. Publique atrasado, "pule" uma semana. É capaz que pouca gente perceba, não se martirize com isso.
Mas não use isso de desculpa para só enrolar. Se perceber este comportamento, é hora de parar e repensar se quer mesmo continuar com o projeto.
Experimente
Nem toda mudança precisa ser uma reação. Para viver — e criar — em movimento, tem que mexer em time que está ganhando sim. Aliás, nem sei se aqui é questão de ganhar ou perder, já que são tantas réguas de sucesso e placares simultâneos.
Em jogo de múltiplos objetivos sobrepostos, dar uma mexida nas peças pode servir até mesmo só para aprendizado. E de novidade em novidade, algumas coisas novas podem surgir e ficar e outras serão apenas pontos isolados aqui e ali, testemunhas de uma pessoa que ousou arriscar.
Persista
Tem semanas boas e ruins, edições que bombam e edições que são uma bomba. Pense no somatório e na jornada longa. Ter uma newsletter (ou um projeto assim periódico) é quase como o processo de perda de peso. É pouco a pouco, sequencial, cumulativo e raramente linear. Tem dias que a motivação é zero e qualquer meta parece inalcançável. Porém, os dias se acumulam e o que prevalece é o somatório. E a perseverança.
Trazendo um exemplo concreto aqui: as playlists. O plano original era ter uma a cada edição da newsletter (planeje, mas faça), mas teve assuntos em que simplesmente não rolava um tema legal para músicas e o jeito era ficar sem (navegação e ajustes), mas sem drama (autogenerosidade). A playlist toma tempo para montar e é algo que nem sei se agrada ou agrega, eu mesmo fico insatisfeito com uma ou outra. Talvez seja o momento de encarar que a experiência com elas chegou ao fim (nem todo experimento é bem sucedido) e pegar este tempo/espaço mental de produção e investir em outro aspecto da news, que vai continuar com ou sem playlist (perseverança).
Outro exemplo: meu plano original era que a newsletter fosse quinzenal, o grande desejo é que fosse semanal. Na prática, teve duas semanas seguidas em que publiquei, uns intervalos grandes entre edições, e no frigir dos ovos fiquei com uma média de uma edição a cada três semanas. Sesquiquinzenal, gostei. Fiz o que pude dentro do que as condições permitiam. Talvez no futuro eu consiga aumentar a frequência, mas isso não depende só de mim. Tive o plano, cumpri de acordo com o que o ambiente me mostrou ser possível, não me torturei com isso, fiz uma ou outra coisa diferente, mas nunca larguei.
Hoje termino sem frase de efeito, apenas agradecendo muito a cada pessoa que me lê e reafirmando o compromisso de trazer um texto semana sim, semana talvez, onde espero mexer alguma coisa aí em nossas guelras metalizadas.
No mais, sem mais,
Abraços ictiomercuriais,
Thiago Ambrósio Lage (@thamblage)
Drops
Meu conto Seis Estrelas, que saiu na revista Escambanáutica, está disponível na Amazon! No conto acompanhamos Míriam, uma motorista-fantasma de aplicativo que roda nas noites de Belo Horizonte.
Romantífica (vulgo meu livro mais recente) está no mundo! No livro trago contos que exploram a interface entre ficção científica, romance e relacionamentos (explico um pouco aqui). Quer comprar o seu exemplar? Basta me mandar um e-mail, mensagem, DM ou visitar meu site e seguir as instruções que mando um para você! Ou se preferir, pode comprar no site da editora.
Falando em eventos, estarei na Odisseia de Literatura Fantástica e na FLIP esse ano, estou bem animado!
Outros planetas, outros metais, outros signos, outros animais
Uma newsletter colega de ninhada da Mercúrio em Peixes é a Ponto Nemo, do Arthur Marchetto. Recomendo aqui a primeira de uma série de três cartas com reflexões sobre o fazer da crítica literária. Sempre bom ler quem sabe do que tá falando, e Arthur consegue ser um guia gentil num caminho complexo.
Mercúrio retrógrado
Aqui trago alguma edição antiga da newsletter que se relacione à edição atual. Como muitos dos assinantes são recentes, ela pode trazer alguma novidade para você. Com vocês, diretamente de 2021, a primeira edição da Mercúrio em Peixes!
Obrigado pela leitura!
Se gostou da newsletter, pode querer conferir o que tenho produzido como escritor em meu site, e como podcaster no Incêndio na Escrivaninha, junto das escritoras Ana Rüsche e Vanessa Guedes. Ou pode querer apenas me seguir nas redes twitter, instagram e facebook e ficar por dentro de minhas bobagens e novidades.
nossa, eu tava mesmo me perguntando pq TANTAS news tavam fzndo aniversário esse mes hahah entao foi por isso. parabéns pra mercúrio em peixes!! 🥳🥳
Que bom comemorar aniversário de newsletters tão bacana! E foi através de um evento sobre Newsletter que nós nos conhecemos, e estou feliz por saber que você vai à flip. O virtual vai se tornar real, hehe.
abraço garoto